Manaus – O mundo vive uma epidemia contínua de obesidade e sobrepeso, com mais de 1 bilhão de pessoas nessa situação, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Fruto de um padrão de vida inadequado, com alto consumo de carboidratos simples, produtos adoçados artificialmente e falta de atividade física, a obesidade está diretamente relacionada com a esteatose, mais conhecida como gordura no fígado, que pode levar à cirrose, ao câncer de fígado e à morte.
“A esteatose hepática é a doença do fígado mais comum e tem relação direta com a obesidade e a diabetes”, diz Carolina Pimentel, coordenadora nacional do curso de Gastroenterologia da Afya Educação Médica. “É uma doença que faz parte do conjunto de consequências da síndrome metabólica. O corpo, por diversos fatores, comportamentos inadequados, estilo de vida desfavoráveis e também por uma questão genética passa a ter um padrão de estoque de tudo aquilo que consome e não gasta, e o fígado é justamente o lugar para onde fica acumulado”, explica.
De acordo com Carolina Pimentel, com o tempo, a gordura acumulada no fígado provoca uma inflamação silenciosa e sua cicatrização (fibrose), que pode se tornar uma cirrose (esteato-hepatite) e câncer de fígado (hepatocarcinoma). O problema tem estado associado à crescente necessidade de transplantes hepáticos.
“A esteatose hepática metabólica compromete diversos sistemas do corpo inteiro”, diz a coordenadora. “Aumento de risco de doenças coronarianas, acidente vascular cerebral, insuficiência renal e mesmo a morte, são algumas das consequências”, afirma.
A epidemia é mundial e no Brasil atinge mais de 6,7 milhões de pessoas, diz o Ministério da Saúde. Os dados são ainda mais alarmantes, diante do crescimento de 90% de jovens entre 18 e 24 anos com obesidade, em 2023, em relação ao ano passado, segundo o Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia).
“Muitos dos que têm obesidade ou sobrepeso também têm diabetes. E se a gente pensar que metade desses pacientes pode ou vai desenvolver esteatose, é possível ter uma ideia do impacto dessa doença”, destaca. “Aproximadamente 25% dos pacientes que têm esteatose podem desenvolver um padrão de esteato-hepatite, ou seja, a inflamação do fígado causado pelo acúmulo de gordura”, adverte.
Estilo de vida e hábitos
O estilo de vida do indivíduo, com sedentarismo e hábitos de alimentação ruins, com excesso de consumo de carboidratos e gorduras podem comprometer o fígado, o que acaba levando a doença. “A gente sabe que a modificação do padrão alimentar tem impacto imenso na recuperação de pacientes com essa doença”, explica. A mudança de hábitos inclui atividade física moderada regular, por 150 minutos semanais, e uma dieta que envolva menos açúcares, carboidratos simples, carne vermelha e álcool e mais carne branca, frango e gordura poliinsaturadas (oleaginosas, salmão e azeite). “Quando conseguimos fazer o paciente compreender essa necessidade de menor consumo calórico e maior gasto energético, mudamos a balança”, reforça.
À luz da ciência
Carolina Pimentel lamenta que, por muito tempo, a gordura no fígado tenha sido negligenciada por médicos de várias especialidades, que entendiam isso apenas como consequência do ganho de peso, sem grandes impactos no funcionamento do órgão e na saúde das pessoas. “Hoje, não há dúvidas, à luz da ciência, que o problema é muito mais grave.
A coordenadora explica que o gastroenterologista e o hepatologista são os médicos especialistas mais importantes no diagnóstico e tratamento da esteatose. “Na Afya, o curso de Gastroenterologia aborda assuntos relacionados diretamente a área e também da hepatologia. Este é um dos temas mais abordados, devido à importância e o impacto dessa doença na saúde do indivíduo, da população e também o reflexo no próprio sistema de saúde, com a demanda aumentada de recursos não só para transplante, mas também para internação e exame”, relata.